quinta-feira, 12 de julho de 2012

Instituto Bíblico Pastoral, Cinquenta Anos do Concílio Vaticano II e o Ano da Fé

No ano comemorativo do Cinquentenário da abertura solene do Concílio Vaticano II em onze
de outubro deste, data em que o Papa Bento XVI proclamou para o início do Ano da Fé, faz-se
primordial introduzir no cotidiano de nossa vida de Igreja em nosso Vicariato Litoral, a missão
profética e evangelizadora do Instituto Bíblico Pastoral Redemptoris Mater. Poder-se-ia,
comumente dizer: Cinquenta anos do Concílio Vaticano II, Ano da Fé e Instituto Bíblico Pastoral
Redemptoris Mater, tudo a ver!

Há Cinquenta anos, a ousadia do amor ao Evangelho e as exigências dos tempos modernos
moveu o ânimo do Papa João XXIII para a renovação e aggiornamento (revitalização,
atualização) da missão da Igreja: ser servidora do Evangelho no mundo de hoje. É a sã coragem
alavancada pelo Espírito Santo, alma da Igreja, Povo de Deus. Momento decisivo para uma
releitura mais eficaz daquilo que o Concílio nos deixou como legado.

Neste ano, precisamente, em onze de outubro (celebração comemorativa da Abertura do
Concílio Vaticano II) a Igreja, na voz do Pontífice, Bento XVI, fará a proclamação do Ano da Fé,
já lançado na Carta Apostólica ‘Porta Fidei’ (A porta da Fé). É uma exortação oportuna para
os nossos dias, “proclamar a fé na Trindade (...) que é Amor” (Porta Fidei, n.01). Afirma ainda
o Papa: “Não podemos aceitar que o sal se torne insípido e a luz fique escondida (cf. Mt 5,
13-16). Também o homem contemporâneo pode sentir de novo a necessidade de ir como a
samaritana ao poço, para ouvir Jesus que convida a crer n’Ele e a beber na sua fonte, donde
jorra água viva (cf. Jo 4,14)”. Na mesma data celebraremos os vinte anos da publicação do
Catecismo da Igreja Católica.

Em nosso Vicariato Litoral, caminha com toda a vitalidade evangelizadora e missionária, porta
da fé que se nos abre para o salutar mergulho nas riquezas teológicas, pastorais e históricas
da Igreja: o Instituto Bíblico Pastoral Redemptoris Mater. Há quatorze anos a serviço desta
porção do Povo de Deus a ecoar nos inúmeros corações a valiosa autenticidade da fé cristã,
genuína na Sagrada Escritura, Tradição e Magistério da Igreja. Para todos os católicos, cientes
de seus compromissos batismais, é o momento exato de se perguntar diante de Deus: qual o
real significado para a fé e vivência do Evangelho, conhecer e aprofundar a Teologia da Igreja?

A realidade contemporânea plural e aberta nos provoca com tamanha exigência a alicerçar
qualitativamente este dom precioso de Deus, a fé. Afirma-nos o Santo Padre: “Deverá
intensificar-se a reflexão sobre a fé, para ajudar todos os crentes em Cristo a tornarem
mais conscientes e revigorarem a sua adesão ao Evangelho, sobretudo em um momento de
profunda mudança como este que a humanidade está vivendo” (Porta Fidei,n. 08).

Assim seja!



Pe Mauro Nunes
Diretor do Instituto Bíblico Redemptoris Mater - Macaé

I Exposição do Instituto Redemptoris Mater (Macaé/RJ)

















EM CONSTRUÇÃO!




As arcas no Antigo Testamento

Diác. Jayme Lopes do Couto


1. Arca: Etimologia e História

Etimologia e Uso

O uso das palavras hebraicas traduzidas como arca, caixote, cofre, jangada tinham significados
semelhantes, mas usos bem diferentes.
A palavra hebraica têbah, usada em Gn 6, 1-9.19 tem o significado de caixote, cofre (ver tb.
Nota p, em BJ). Na sua tradução para o grego em Sb 14,6, foi adotada a palavra grega σχεδια
(=schedia), com o significado de jangada, da mesma forma como em 1 Rs 5,9; 2 Cr 2,16 (cf.
tradução da LXX), assim como o cesto de vime em que Moisés foi depositada (Ex 2,3.5).
Todavia, no NT (cf. Mt 24,38 par.; Hb 11,7) a tradução grega foi χιβωτóϛ (= chibotós)com o
significado de caixote, cofre, a mesma palavra usada para a Arca da Aliança para a qual a
palavra hebraica aplicada foi ắrôn.
No entanto, esta última era reservada, segundo especialistas, para objetos de culto. Em Hb 9,4
e em Ap 11,9, ắrôn também foi traduzida por χιβωτóϛ designando a Arca da Aliança.
O fato é que, como se pode depreender, que têbah era empregada para quaisquer objetos e
ắrôn para objetos de culto. Em ambos os casos – a Arca da Aliança e a Arca de Noé – o material
a ser empregado e a descrição de sua arquitetura e construção foram informados pelo próprio
YHWH, respectivamente em Ex 37, 1-9 e Gn 6, 14-16.
Breve História das Arcas
A Arca de Noé, após o dilúvio, aparentemente foi abandonada no Monte Ararat, onde
encalhou (Gn 8,4) e, segundo alguns querem, lá foi encontrada por arqueólogos, mas tal
pretensão é de difícil comprovação.
Contudo, para a Arca da Aliança, pode-se acompanhar seus traslados com certa segurança,
até pelo menos, quando foi depositada no Santo dos Santos do templo construído por
Salomão em torno do século IX a.C.
A primeira menção à Arca da Aliança foi feita quando a Moisés YHWH deu a ordem de
construí-la (Dt 10,1b) com a finalidade de guardar as Tábuas da Lei, onde Senhor |Deus
escreveu seus mandamentos (Ex 34,1)1.
Deveriam ser tábuas de pedra, material considerado resistente e de grande duração. Isto é, as
tábuas deveriam significar a perenidade da sua Palavra e ser fonte de consulta permanente.
A Lei também tinha o sentido de formalização de um contrato, uma aliança (bêrit) que Deus
queria realizar com seu povo. Os termos dessa Alainça – as Dez Palavras (Ex 34,28 – se
apresentam em Ex 34, 10-28, acompanhadas das ordens para ações bélicas e de defesa da
crença que daí em diante aquele povo deveria professar (Ex 37, 11-16) e do significado de cada
ordenamento (Ex 34,17-27)
Em Dt 10,3ss e em Ex 37,1-9 está informado quem construiu a Arca, o material usado,
seu “design” , as dimensões e complementos, enfim todos os detalhes da arquitetura da Arca.

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Mais tarde, segundo Hb 9,4, também nela foram depositados um jarro com maná e a vara de Aarão ( Nm 17,10)
Podemos entender, mediante Ex 34, 29.30.34 que o Senhor Deus indicou, como principal
função servir de sinal de sua presença, pela Palavra, no meio daquele povo; subsidiariamente,
para guardar relíquias.
Tal presença se manifestava, como graça visível, pela Luz de sua glória refletida na face de
Moisés toda vez que o profeta, ao sair da Tenda da Reunião (onde estava colocada a Arca),
mostrava, a ponto de ser necessário cobri-la com um véu para não ofuscar quem para ele
olhasse (Ex 34,29-33). A Arca passou a representar e a lembrar a Shekinah, a glória de YHWH
presente, um lugar sagrado, preenchido pela Santidade, pela Majestade, pela Glória de Deus.
Aarão2, em Lv 6,1, pela primeira vez, é convocado por YWHW, através de Moisés, para o
exercício de funções de sumo-sacerdote (cujas funções estão descritas em Lv 1-5), como
presidente do ritual do holocausto (Lv 8, 6-12). Em Lv 8-9 está descrita a consagração de Aarão
e seus filhos e sua primeira bênção ao povo.
Mas a negligência de Aarão (Ex 32, 25) foi motivo para Moisés – após submeter a tribo de Levi
a provas (Ex 22,26-29) – a, após a morte de Aarão (Dt, 10, 6s), designá-la como responsável
pela Arca da Aliança (Dt 10, 8). Assim foi, também, durante a liderança de Josué, filho de Nun
(Dt 31, 1-8) que assumiu o lugar de Moisés após sua morte (Dt. 34).
Ao longo desses anos, a Arca sempre esteve com o povo hebreu, acolhida na Temda de
Reunião (Ex 33,7-11) e todos os cuidados e serviços a cargo dos levitas.
Nos Livros Históricos, esse objeto de culto, agora sob a guarda do sacerdote Eli e seus filhos,
foi pela primeira vez usada numa ação bélica como paládio (= objeto sagrado para aumentar a
confiança nos soldados e aterrorizar os inimigos), na tomada de Jericó ( Js 6, 6-16).
À época de Saul, várias guerras contra os filisteus aconteciam. Numa dessas, a Arca foi levada
ao acampamento dos hebreus para fortalecer-lhes os ânimos. Todavia, os filisteus venceram
as batalhas e capturaram a Arca (1 Sm 4, 1c-11). Ao receber a notícia do que acontecera à Arca
e a seus filhos, Eli “caiu da cadeira para trás, junto à porta, quebrou o pescoço e morreu...”
(1 Sm 4, 12-18).
Os filisteus, por várias desgraças ocorridas, atribuíram as causas à Arca (1 Sm 5) e, após
sete meses, resolveram devolver o objeto sagrado dos hebreus (1 Sm 6). A Arca foi para o
povoado de Bet-Sames e depois para o de Cariat-Iarim, na casa de um tal de Abinadab , cujo
filho Eleazar foi designado como guardião da Arca (1 Sm 7,1), contra a vontade do povo, pois
achavam que os ataques dos filisteus ao povoado eram atraídos pela Arca. Exortados por
Samuel, apresentaram sacrifícios a YHWH e a Arca lá permaneceu (1 Sm 7,5-15).
Davi, (século X/IX a.C.) determinou que se trasladasse a Arca para Jer4usalém, Porém, no
caminho, ocorreu incidente que deixou o rei com medo de YHWH (2 Sm 6, 1-9) : a morte de
um dos homens encarregados pelo transporte. Isto somado com a fama anterior espalhada
pelos filisteus, ordenou que fosse conduzida para a casa de um filisteu, Obed-Edom, onde
permaneceu por três meses, e que, com a família, foi abençoado (2 SWm 6,12). Davi não
queria leva-la para Belém, cidade onde nascera, mas ao saber das bênçãos recebidas pelo
filisteu, decidiu-se, finalmente em leva-la para Belém, situada a 7 km ao sul de Jerusalém.
Participou pessoal mente desse traslado durante o qual oferecia holocaustos e ele mesmo
dançava na frente do cortejo, em homenagem a YHWH, vestido com o efod de linho, próprio

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O que se pode dizer de Aarão, com alguma reserva, é que na Tradição sacerdotal, aparece como de família
levita, irmão de Moisés (Ex 6,20), constituído por YHWH (Ex 4,14-17) como profeta, porta-voz de Moisés (Ex 7,1),
sacerdote por consequência, assim como seus filhos (Lv,1,5).
do sumo-sacerdote.
Algum tempo depois, Davi considerou que não seria próprio a Arca estar abrigada numa tenda,
enquanto ele morava numa casa de cedro (2 Sm, 7, 2). O profeta Natã foi alertado por YHWH
que Davi estava cheio de orgulho , não o reconhecia como o que tudo lhe dava e não aceitava
a construção do templo, embora quisesse abençoá-lo e à sua descendência para sempre (2 Sm
7, 1—17); reservaria essa honra e glória a seu filho Salomão.
Esse rei (século IX/VIII) a. C.) foi quem construiu o templo e nele, no Santo dos Santos, a Arca
foi depositada (1 Rs 6,19; 8, 1-9). Daí em diante, a Tradição do AT já não mais dá qualquer
notícia sobre a Arca da Aliança.
2. O Dilúvio e a Arca de Noé
Aqui trataremos da Arca que Noé construiu, por determinação de Deus, uma têbah, traduzida
para o grego, em Sb 14,6, como σχεδια (=schedia), em português, jangada ou balsa, cuja
finalidade era salvar a ele, sua família (esposa, três filhos e três noras) mais casais de animais
de cada espécie, para dar continuidade à vida após o dilúvio (Gn 6,19-30).
O Sentido do Dilúvio
O autor javista, escrevendo, como guardião moral da sociedade daquela época, de maneira
bastante antropomórfica, queria mostrar sua visão (transformada em visão de Deus) sobre
uma sociedade corrompida moralmente e em tal magnitude que Deus só via uma alternativa
para eliminar os maus costumes: desaparecer com todos os homens que havia criado,
juntamente com todos os animais,
YHWH estava “arrependido” de tê-los criado e a única solução para eliminar os vícios era
suprimir os viciados.
Mas conseguiu encontrar em Noé e sua família um pequeno núcleo que não se contaminara a
poderia renovar suas criaturas a partir desses. Mas, se exterminasse todos os animais, aquele
pequeno grupo não conseguiria sobreviver. Assim , concedeu que um casal de cada espécie de
animal seria preservado.
A forma de eliminação daquela sociedade depravada seria provocar um dilúvio talo que
matasse a todos.
Esse fenômeno climático não era incomum naquela região – as lendas dos povos da
mesopotâmia nos dão essa informação – e portanto, valendo-se de meios naturais tudo
organizou para concretizar sua intenção. YHWH, em suas teofanias no AT se vale, em muitas
delas dos elementos da natureza para mostrar seu poder e sua majestade.
Na verdade, o fato foi adaptado das lendas cosmogônicas dos povos da Mesopotâmia pelo
autor javista para resumir e simbolizar a história de Israel e da humanidade.
A água, símbolo – como o fogo – foi o instrumento usado para significar a purificação de que
aquele sociedade necessitava para renovar-se e, assim, salvar-se dos castigos eternos.
O autor sagrado, da Tradição sacerdotal, além do pequeno horizonte geográfico do mundo
conhecido da época de que dispunha, demonstra exagerada preocupação soteriológica para
a sociedade em que vivia; pretendia, com suas palavras, mudar o comportamento de uma
sociedade irremediavelmente degradada.
A Figura de Noé
Nôah, vem da raiz do verbo namah (consolar), que, na Tradição javista, foi quem descobriu
a forma de produzir vinho (Gn 9, 20s), aludida por seu pai Lamec que fala daquele que
produziu “o vinho que consola os homens do seu penosos trabalho”( Gn 5,29).
Noé fecha a genealogia de Adão (Gn 5, 1-30) , de tradição sacerdotal, como o décimo
gerado após Adão e deixou como filhos Sem, Cam e Jafé. Esse número aplicado a qualquer
enumeração indica que nada foi deixado de ser nomeado e tudo está considerado até aquele
momento.
Noé foi escolhido para ser o renovador da criação por ser justo e temente a Deus. Ou seja,
aquele crente que reconhecia todos os atributos de Deus Criador que só desejava o bem para
todos (Hb 11,7) Compreendeu que a arca seria a salvação (Sb 124,6) e obedeceu as normas
construtivas consciente na esperança certa e inabalável de que nela estaria em segurança.
Lembrou-se, talvez do que Deus havia feito com Adão, seu descendente em linha direta, por
causa da desobediência.
Noé é o símbolo do princípio do novo povo que emergiria, pela benevolência de Deus, do mar
de iniquidade que destruiu o mundo.
No NT (Mt 24,37ss, par.), Noé passou a ser modelo de vigilância e fidelidade a Deus, em
contraposição aos de sua época. Nas cartas de Pedro é reconhecido como o profeta, o arauto
da justiça divina, salva pela Palavra.
Todavia, ainda assim – verificou-se na continuidade da história da humanidade – essa segunda
aliança (também de iniciativa divina) proposta a Noé, (Gn 6,18), de características universais,
não significou a eliminação definitiva dos vícios.
Cam, da descendência de Noé, um dos oito destinados a constituírem um novo povo
regenerado, aquele pequeno Resto, se encarregou, por sua rebeldia em relação ao Senhor
Deus, de manter o mal no mundo, simbolizado por Canaã, povo que formou.
A Arca
A palavra têbah, usda em Gn 6,1-9.19, não faz distinção entre cofre, caixote e jangada ou balsa
(Sb 14,6) a que o grego traduziu por σχεδια (=schedia), jangada.
O importante, porém é compreender que Deus, também aqui, chama o justo Noé e sua
família à salvação e deles solicita que trabalhem nesse sentido. A arca é, por isso, o símbolo da
esperança da libertação para aquele Resto que é fiel e crê na Palavra.
Todos os detalhes construtivos da Arca foram especificados por Deus (Gn 6,14-16) para que
Noé, sua esposa, seus três filhos e três noras pudessem sobreviver ao que foi comparado à
abertura das “comportas do céu” (Gn 7,11s).

3. Semelhanças, Prefigurações e Simbologias

Os Padres da Igreja serviram-se dos textos bíblicos para ensinarem alguns aspectos
interessantes das narrações quanto às Arcas Assim também procuramos entende-las:
Iniciamos pela observação sobre os detalhes construtivos das arcas que, na verdade são sinais
de que nossa salvação depende, também, de elementos formais que devem exprimir grau de
reverência para com Deus e com o que a ele se refere.
Fundamentados nas Tradições do AT podemos associar a Arca da Aliança ao sacrário dos
templos católicos, onde Jesus Sacramentado, o Verbo de Deus, está colocado, marcando a
presença de Deus no meio de seu povo eleito. Atualmente, após a Sacrossanto Concilium, de
modo geral, os sacrários se localizam na Capela do Santíssimo, que também podemos associar
ao Santo dos Santos dos antigos templos judeus, pequeno cômodo separado do restante do
templo, à época de Jesus, por um véu. Era o lugar onde o Sumo-sacerdote só entrava uma vez
por ano para pedir perdão e orar pelo povo eleito.
A relevância dada à Palavra, evidente no caso da Arca da Aliança e inerente à obediência de
Noé, é fundamental para entenderem-se as Arcas como símbolos da presença de Deus no
meio do povo, pois Deus determinou que as Dez Palavras estivessem muito bem guardadas
para orientarem permanentemente a quem queria libertar-se do pecado; por isso Noé foi
considerado uma prefiguração do Messias Redentor, renovador da humanidade decadente.
A narração do dilúvio – descontados os antropomorfismos do autor javista e sua estreiteza de
horizonte do mundo conhecido – bem como a passagem do Mar Vermelho, funcionam, desde
Pedro, como a prefiguração do batismo, sacramento instituído por Jesus, o Cristo de Deus,
como instrumento da Graça santificante de Deus; nele o Mal perece nas águas da purificação
e o homem renovado emerge configurado à Palavra e como sacerdote comum, pois recebe a
unção dos Santos Óleos com que reis e sacerdotes eram consagrados.
Fica evidente, também que a fé demonstrada na obediência à Palavra, tem como corolário
a conversão interior, pois somente a formalidade não basta, é fundamental o testemunho
universal ao Deus Único Salvador para que se complete a efetiva ação do Espírito Santo.
As duas Arcas também foram instrumentos da libertação dos pecados, exigiram doação e
entrega, e a demonstração inequívoca da glória e da presença de Deus e serviram para o
exercício de sua pedagogia para um povo que iniciava sua caminhada espiritual.
Ambas expuseram que Deus chama a todos à libertação dos pecados, é paciente, avalia bem
todas as alternativas antes de exercer sua Providência, mas poucos são os que compreendem
o chamado, a vocação; somente um pequeno Resto consegue segui-lo.
Não podemos deixar de aludir, além das alegorias das prefigurações do batismo, as arcas
também são usadas como figuras para Maria, a Mãe de Deus, que por nove meses, como a
Arca da Aliança, foi depositária da Palavra ao dar seu fiat. Por outro lado, a Igreja – também
denominada Barca de Pedro – reunião do povo escolhido e fiel, do pequeno Resto configurado
ao Senhor Jesus, conduz a todos, como a Arca de Noé, ao Reino por ele anunciado. A
realização desse Reino é a missão de todos nós crentes em Deus Pai, em seu Filho e no Espírito
Santo.
As duas Arcas também nos remetem à dimensão escatológica de uma vida eterna no Senhor,
própria de quem esteve no serviço do Senhor, como missionário, crente da Palavra que está
no seu interior e é levado a todo canto da terra pela ação do Espírito, como aconteceu com as
Arcas.