A Missa da Vigília é,
segundo a tradição da Igreja, no Tríduo Pascal, o momento mais importante, pois
nela se reúnem todos os elementos do Mistério Pascal.
A Missa do dia da
Ressurreição, porém, que hoje celebramos, é aquela em que se destaca a razão de
nossa fé: a Ressurreição do Senhor Cristo Jesus. Está tão profundamente
vinculada à Missa da Vigília que, liturgicamente só está alterada nas leituras:
evangelho e outras leituras; todas as outras orações antífonas se repetem.
Dessa maneira, este Dia, é
o cume do conjunto mais importante de comemorações da Igreja de Nosso Senhor
Jesus Cristo: o Tríduo Pascal.
Esse Dia nos foi
apresentado na Tradição judaica com um dia de Esperança, de alegria e louvor.
Para entendermos perfeitamente o sentido deste dia, importante conhecermos o
significado literal da palavra “dia”, com a finalidade de melhor compreender o
conceito e o sentido do Mistério que celebramos: o Mistério Pascal e, em
particular o Mistério da Ressurreição.
O salmista canta: “Este é
o dia que o Senhor fez para nós!” (Sl 118, 24).
Na fonte hebraica dia é yom;
na versão grega, é hemera. Quando o texto bíblico fala Dia (yom
ou hemera), é evidente que se trata, em discurso teológico ou na
tradição profética, de um dia consagrado para rezar e louvar; no sentido
escatológico, se está designando aquele dia consagrado pelo Senhor Deus – o Dia
do Senhor – que, além da forte conotação ritual, chama-nos à reflexão sobre o
fim dos tempos..
É o Dia que o fiel deve
abandonar todos e quaisquer afazeres para dedicar seu tempo a louvar o Senhor
e, no sentido escatológico do final dos tempos, também é o Dia do Julgamento
Universal, aquele grande Dia, profetizado em Mt 25, 31-45, em que todos
estaremos reunidos numa grande assembleia, esperançosos e confiantes, para
conhecer a plenitude da Revelação, quando veremos a Deus como ele é (1 Jo 3,
2b), a Jesus Cristo na sua glória, em comunhão com a criação inteira.
Nesse Dia compreenderemos
por que e para que fomos criados; é, sem dúvida, um Dia de grande e profunda
alegria que hoje já podemos viver, mas ainda não na plenitude. Hoje, no Dia
do Senhor, que apelidamos de Domingo, podemos imaginar e, sob certos
aspectos, viver o dia de nossa ressurreição em Cristo Jesus, mas não
plenamente.
Outros são os apelidos
dados como o “oitavo dia”, o dia mais-que-perfeito;, também chamado, pela
primeira vez nos Atos dos Apóstolos e já anunciado no Antigo Testamento, como o
“terceiro dia” do Tempo Pascal.
É, portanto, um dia de
importância especial para o cristão. É o dia em que se afirma, sobre a Cruz, a
vitória do Bem sobre o Mal, ou, no mínimo, a certeza de que assim como Jesus
venceu a Morte, o pecado, assim também o cristão, sustentado pela Graça de Deus
e pelo exemplo de seu Filho, também alcançará o mesmo fim.
A Pedro, o primeiro Papa,
naquela época, segundo a Tradição, coube anunciar urbi et orbis a
Ressurreição do Nazareno. Depois dele conservou-se a tradição de os Papas, não
na praça em Jerusalém, mas na Praça S. Pedro, no Vaticano, o mesmo anúncio.
Mas conta-nos o
evangelista que outros também participaram do evento. A notícia, levada por
Maria Madalena à comunidade primitiva, se derramou como o vinho novo posto no
odre velho. O alvoroço foi grande e poucos entendiam, no meio da confusão
generalizada que se formou, o que realmente acontecera.
Lucas nos deixou, por
exemplo, o testemunho dos discípulos de Emaús. João nos relata a incredulidade
de Tomé, assim como para muitos de nós, o entendimento da Ressurreição não foi
– e ainda não é – assunto de fácil percepção e aceitação nem é tão simples no
sentido teológico.
Nesse Domingo, quando
reunidos, participantes do mesmo evento, devemos humildemente procurar entender
o sentido do fato extraordinário, mas comprovável pelas circunstâncias
históricas e pela fé, não como mito ou lenda, nem mesmo como metáfora dos
primitivos cristãos, mas uma realidade vivida e testemunhada.
O Mistério Pascal no seu
conjunto (desde a Encarnação até a Redenção) e, em particular, a Ressurreição é
complexo.
Mas não é hora de
enveredar nessa discussão teológica; gostaria de abordar o tema da Ressurreição
na ótica pastoral, isto é, no sentido do que esse fato traz, para a vida
sacramental de cada um: interferências na vida familiar, na profissional e no
relacionamento com a comunidade em que vivemos.
Em primeiro lugar, a
Ressurreição do Cristo Jesus, como princípio de nossa fé, levanta-nos questão
importante.
Quem morreu na Cruz, não
foi a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, o Filho de Deus – tão Deus quanto
o Pai e o Espírito Santo, imortal, que não tem princípio nem fim, é eterno –
mas a natureza humana do Filho Deus, assumida no seio da sempre Virgem Maria
quando se tornou, ao mesmo tempo, verdadeiro homem, a humanidade de Jesus.
Logo, quem ressuscitou foi
o Cristo Jesus, como homem, na sua natureza humana. Trata-se, portanto de uma
questão de fé, com implicações profundas. Quem não aceita a Ressurreição de
Jesus Cristo, também não poderá aceitar a Encarnação do Filho de Deus no seio
de Maria nem sua ascensão ao céu em Corpo, Alma e divindade.
S. Paulo afirma, em sua
primeira Carta aos Coríntios, que nossa fé será vã e inexistente se não
aceitarmos a Ressurreição de Jesus Cristo: nem o próprio Jesus como Cristo de
Deus.
Ainda mais: não
aceitaremos também nossa própria ressurreição, por ele prometida, no nosso
corpo transformado como o dele.
Ora, essa fé no Cristo
Jesus, que nos prometeu a ressurreição na sua Parusia, sua última vinda no meio
de nós, é fundamental para nossa vida sacramental, expressão de nossa fé
naquele que instituiu, como Deus, todos os sacramentos. Se Jesus Ressuscitado é
o mesmo Deus que instituiu os sacramentos, como recebê-lo na hóstia consagrada?
Como pedir-lhe perdão por pecados cometidos? Como pedir-lhes, enfim, as graças
específicas de cada sacramento?
Essa vida sacramental é
determinante para nossas atitudes religiosas e morais e nos comprometem em
todas as dimensões de nossa vida em família, na profissão que exercemos, na
nossa inserção na Igreja que Jesus Ressuscitado fundou..
Texto: Diácono Jayme Lopes do Couto